Cerca de 1,5 mil pacientes ostomizados de Santa Catarina aguardam por bolsas coletoras Betina Humeres/DC
Irena Gavlisnski Duarte destaca os problemas enfrentados por quem depende do objeto
Foto: Betina Humeres / DC
Em Santa Catarina existem cerca de 4 mil pacientes ostomizados. São pessoas que precisam fazer uso de bolsa coletora para eliminar as fezes do organismo. O mais comum é que tenham passado por cirurgia para a retirada de tumores, embora existam outras doenças que levam ao procedimento. Mas cerca de 40% dos cadastrados na Secretaria de Estado da Saúde estão sem receber a bolsinha, como é conhecida popularmente, por causa de atrasos no pagamento do Estado a fornecedores.
Além disso, em torno de 1,5 mil pessoas aguardam por cirurgia de reversão. O assunto motivou uma audiência pública na Assembleia Legislativa.
– É um descaso muito grande com essas pessoas. A última parcela paga foi em julho do ano passado e agora são sete meses em atraso – reclamou a presidente da Associação Catarinense da Pessoa Ostomizada (ACO), Candinha Jorge.
Além disso, disse ela na audiência, também falta repassar outros insumos descartáveis essenciais para a qualidade de vida de quem se utiliza da bolsa. O assunto já esteve em debate na Alesc em maio do ano passado. Como não houve avanços, a ACO pediu novamente ajuda para a Comissão de Saúde. 
Em 2016, houve comprometimento sobre a formação de um grupo para regularizar as cirurgias de reversão. Isso ocorre quando, depois de um tempo usando a bolsa ou num pós-operatório, a pessoa é submetida à cirurgia para reconstituição do intestino.
A estimativa da ACO é de que existam cerca de 1,5 mil pessoas na fila de cirurgia. O presidente da Associação Mafrense da Pessoa Ostomizada (AMO), Marcial José Przybyela, aproveitou a audiência para fazer críticas:
– Há casos em que pacientes ficam sem bolsas por até dois meses. E muitos ostomizados já perderam a chance de fazer a cirurgia de reversão por causa da fila de espera.
Ele lembrou que os ostomizados não vivem uma vida normal, principalmente pela angústia, baixa autoestima, insegurança e desconforto. O dirigente pediu treinamento aos profissionais de enfermagem e a criação de uma câmara técnica, na Secretaria de Saúde, para monitorar e qualificar a atenção com esses pacientes.
Governo promete resolver em 45 dias
Karin Leopoldo é superintendente de Serviços Especializados e Regulação da Secretaria de Estado da Saúde. Ela confirma o desabastecimento dos equipamentos e insumos por causa de atrasos nos pagamentos a fornecedores, os quais bloqueiam o repasse. Mas assegura que o Estado irá regularizar a situação em até 45 dias.
A respeito de filas para realização da cirurgia de reversão do processo, Karin informa que um mutirão de cirurgias foi firmado com o Hospital Oase, de Timbó, com capacidade para atendimento de até 300 pessoas por mês. Mas explicou que os pacientes não estavam chegando até a unidade hospitalar por falhas no sistema e falta de informações atualizadas. 
Há, ainda, pessoas que desistem da cirurgia. Isso ocorre depois de adaptação ao uso da bolsa, o que inicialmente causa desconforto. Na Secretaria de Saúde existe uma equipe responsável em entrar em contato com os pacientes para saber se eles têm interesse e condições de passar pelo procedimento jurídico.
A respeito das bolsas, Karin disse que foi montada uma estratégia para que o material não deixe de chegar aos pacientes: a busca nas regionais onde estão sobrando para repasse a lugares onde há carências. Os estoques estariam sendo recontados, afirma.
O deputado Neodi Saretta (PT) preside a Comissão de Saúde. Para ele, é preciso regularizar a questão das bolsas e também das cirurgias de reversão. Durante o debate na Alesc, Saretta declarou que a situação dos hospitais, dos postos de saúde e de milhares de pacientes `pede socorro¿. Há falta de medicamentos, insumos, exames sendo adiados e cirurgias.
A respeito dos ostomizados, Saretta voltou a alertar: 
– O material não está sendo entregue a quase metade dos pacientes assegurados pelo SUS, e que perdem o prazo da cirurgia de reversão pelas falhas no cadastro. Isso é muito grave – observou o presidente da Comissão de 
Saúde da Alesc.
Situação leva pessoas a ficarem presas em casa
– Quando a Rede Globo vai fazer uma novela mostrando que é possível viver bem mesmo sendo ostomizado? Afinal, já fizeram isso com pacientes com câncer, cadeirantes, autistas. Mostrar essas situações serve para ajudar as pessoas e a sociedade a se dar conta da realidade, não é mesmo?
Quem pergunta é Irena Gavlisnski Duarte, presidente da Associação da Pessoa Ostomizada Regional de Florianópolis. Vítima de um erro médico, Irena usa bolsa coletora há cerca de 40 anos e conta que decidiu usar a experiência para ajudar outros ostomizados. Toda semana ela vai até a sede da entidade, no Centro de Florianópolis, onde ocorrem reuniões para tratar questões como legislação, qualidade de vida e procedimentos a serem adotados.
– Muitas pessoas conseguem superar a dificuldade. Mas há também quem entre em processos de depressão, por isso achamos importante conversar sobre o assunto – diz.
Rotina alterada pelo problema
A presidente da Associação Catarinense da Pessoa Ostomizada e coordenadora-geral da Associação Brasileira – Regional Sul, Candinha Jorge, usa a própria experiência para contar sobre a situação. Até terça-feira, ela não podia sair de casa devido à falta da bolsa.
– Eu sou ostomizada e enfrento incontinência urinária. Não tenho vergonha de dizer que estava usando uma toalha. Escrevi sobre o problema no Facebook e uma empresa que me conhece por causa da atuação com a entidade entrou em contato e meu forneceu bolsinhas para um mês. Isso me ajuda, mas não resolve o problema que atinge muitas outras pessoas – observa.
Fonte: DC - Por ÂNGELA BASTOS