sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Depois de ser diagnosticada com câncer, moradora de Florianópolis renasce com as flores

No início de mais uma primavera, dona Emara abre as portas de casa e mostra como as plantas podem mudar a vida de alguém

Depois de ser diagnosticada com câncer, moradora de Florianópolis renasce com as flores Diorgenes Pandini/Diário Catarinense
Foto: Diorgenes Pandini / Diário Catarinense

"Um dia eu me dei conta de que o jardim é o retrato da nossa alma". Foi no quintal de sua casa no Itacorubi, em Florianópolis, que a dona Emara Barros Schlyter, de 65 anos, decidiu dar uma guinada na vida e se recuperar do abalo emocional decorrente da luta contra um câncer de tireoide, em 2016, seguido de fibromialgia e artrose. Nas vésperas de mais uma primavera, que começa nesta sexta-feira, dona Emara abriu as portas de casa e mostrou como as flores e as plantas podem mudar a vida de alguém.Emara sempre foi uma pessoa ligada à natureza. Gostava de fazer trilhas, rafting e procurar sementes e folhas na mata, além de escrever e cantar, até que certo dia foi diagnosticada com câncer na tireoide. Aos poucos, foi perdendo a voz e a força do corpo. Pouco depois, começou a se sentir deprimida.
— Eu olhava pela janela de casa e via meu jardim tão feio, tão abandonado, e pensava: "é bem assim que estou". Olhava para os vasinhos e dizia para mim mesmo: "tenho que fazer alguma coisa, não posso ficar trancada dentro de casa".
A primeira medida tomada por dona Emara foi adentrar no mundo da Segunda Guerra Mundial, assistindo a "quase todos os filmes" sobre o tema — filha de um sueco que entrou para o Exército Brasileiro ao se mudar para Paranaguá (PR) e de uma brasileira voluntária da Cruz Vermelha, não foi difícil criar interesse pelo assunto. Depois, partiu para o tricô, o crochê e os poemas. Até que decidiu revitalizar seu jardim.
— Sempre estou buscando alguma coisa que me encante, não importa o que seja. O encanto faz parte da vida. Se você não se encantar com alguma coisa, parece que a vida perde o sentido.
Aflorando sua criatividade, dona Emara revigorou a terra de algumas espécies que já tinha, como a cerejeira, e começou a plantar diferentes tipos de flores, temperos, ervas. Cóleus, lobélia, petúnias, cinerária, rosa, amor-perfeito, maria-sem-vergonha, alecrim, salsinha, manjericão. Tem de tudo em seu cantinho.
— Um dia eu me dei conta que o jardim é o retrato da nossa alma. O que a gente faz, como a gente cuida das coisas, reflete as energias que a gente carrega. Então, decidi renovar o jardim.
 FLORIANOPOLIS, SC, BRASIL, 20.09.2017: A dona Enara, de 65 anos, usa do jardim e das flores como fonte de vida e energia, além de filosofar sobre a vida através de comparativos com o jardim que cuida em casa. (Foto: Diorgenes Pandini/Diário Catarinense)
Foto: Diorgenes Pandini / Diário Catarinense
O cuidado com as plantas é diário — não se pode abandoná-las, sob o risco delas enfraquecerem e morrerem. Assim, tão logo acorda, dona Emara abre a janela do quarto e espia suas flores, observa seu crescimento e suas necessidades.
— Se a terra é boa, a planta é boa. Esse é o segredo. A planta enfraquece quando a terra está ruim. Também gosto de permear as plantas, coloco ervas medicinais e temperos nos mesmos vasos das flores, também deixo os matos e as ervas daninhas lá. Até porque, quando a formiga vem, se não encontrar a erva daninha, ela vai comer a planta ornamental.
Tudo começou fugindo do pai
Engana-se quem pensa que dona Emara adquiriu toda essa experiência em apenas um ano. O cuidado com seu jardim começou em 2016, depois de ter sido diagnosticada com câncer, mas sua relação com as flores e plantas vem desde sua infância, época em que morava em Porto Alegre.
— Meu pai, além de militar, era alcoólatra. Ele ficava violento quando bebia, queria matar a minha mãe, surrar o meu irmão... Quando meu pai entrava nessas, eu escapava para o Jardim Botânico, que ficava perto de casa.
 FLORIANOPOLIS, SC, BRASIL, 20.09.2017: A dona Enara, de 65 anos, usa do jardim e das flores como fonte de vida e energia, além de filosofar sobre a vida através de comparativos com o jardim que cuida em casa. (Foto: Diorgenes Pandini/Diário Catarinense)
Foto: Diorgenes Pandini / Diário Catarinense
Nos anos 1960, o recém-criado Jardim Botânico de Porto Alegre ainda era um "deserto", conforme conta dona Emara. Passados quase 60 anos desde sua inauguração, hoje é um patrimônio ecológico de uma das cidades mais urbanizadas do país.
— Eu fugia de casa e disparava para o Jardim Botânico. Minha escola também levava a gente lá para ajudar no plantio, mas eu ia mesmo fora do horário de aula, entre meus 8 e 11 anos. Recentemente estive lá e fiquei impressionada. O Jardim Botânico de Porto Alegre, hoje, é uma floresta. Fiquei feliz de ver que pude ajudar.
A força da fênix
Quem lida com a terra, com jardim, desenvolve um senso de observação muito grande. Percebe como as plantas e flores se adaptam ao ambiente e superam as dificuldades impostas pela natureza. Foi o que aconteceu com dona Emara.
— Você já viu como a semente desvia dos torrões duros e das pedras que estão na terra? É isso que temos que fazer. Ir desviando os obstáculos até superá-los. São exemplos claros que a natureza traz para a gente.
Emara conta que, mesmo depois de ter superado o câncer e a depressão, ainda se sente triste de vez em quando. Mas tão logo percebe isso, corre direto para o jardim.
— Eu sei como estou me sentindo, aí olho para o jardim e penso: "está faltando isso". Quando eu não consigo mudar de dentro para fora, vou trabalhar no jardim e mudo de fora para dentro. É um aprendizado, um presente que estou ganhando. Eu olho aquelas cores, acho até que meu olho brilha. 
 FLORIANOPOLIS, SC, BRASIL, 20.09.2017: A dona Enara, de 65 anos, usa do jardim e das flores como fonte de vida e energia, além de filosofar sobre a vida através de comparativos com o jardim que cuida em casa. (Foto: Diorgenes Pandini/Diário Catarinense)
Dona Emara e a cachorrinha Matilda, sua fiel companheiraFoto: Diorgenes Pandini / Diário Catarinense
Depois de superar as doenças recentes, a infância dura, a morte do primeiro marido e do divórcio do segundo, dona Emara se considerada uma mulher forte, independente e autônoma. Agora, suas únicas preocupações são as flores, os filhos, os netos e seus dois bisnetos - Gabriel, de 4 anos, e Júlia, de 8 meses.
— Depois que tu passa por uma experiência mais difícil, você fica mais forte, parece que se renova. Eu me sinto uma fênix renascendo das cinzas. Dizem que a gente tem que ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro. Agora só falta escrever o livro!
Matéria de Rafael Tomé
Fonte: Hora de Santa Catarina e Diário Catarinense

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